Funeral de Stephen Hawking em Londres abrirá até para viajantes do tempo vindos do futuro

terça-feira, 15 de maio de 2018

Funeral de Stephen Hawking em Londres abrirá até para viajantes do tempo vindos do futuro


As cerimônias fúnebres de Stephen Hawking vão ocorrer no dia 15 de junho de 2018. As cinzas da cremação do corpo do físico teórico serão sepultadas na Abadia de Westminster em Londres na Inglaterra, onde estão os restos mortais de figuras como Isaac Newton e Charles Darwin.

A cerimônia será aberta ao público. Os interessados podem inscrever-se em formulário online, um fato curioso é que o campo da data de nascimento permite que se introduza até ao ano de 2038 porque a fundação filantrópica criada com nome de Stephen Hawking considera que viajantes do tempo possam vir do futuro para prestigiar o evento.

Entre os interesses de Hawking estava a natureza do tempo. Stephen Hawking faleceu em março deste ano, com 76 anos, desafiando todas as previsões que havia sobre a sua doença, estudou e debateu ao longo da vida os fenômenos mais complexos do universo. Teorias como outras dimensões ou a possibilidade de viajar no tempo não ficaram fora da mesa de discussão.

Até o começo desse fim de semana já havia 12 mil inscrições de 50 países disputando mil lugares destinados ao público..

O evento comemorativo "celebrará a vida e obra" do astrofísico britânico, que faleceu em 14 de março aos 76 anos. 

Fachada da Abadia de Westminster em Londres, onde o físico britânico será enterrado ao lado de grandes nomes da ciência como Isaac Newton e Charles Darwin.

Última teoria

O físico Stephen Hawking morreu, mas suas ideias continuam perambulando por aí. Quase dois meses após a partida do físico britânico, seu último artigo foi publicado no Journal of High Energy Physics — o trabalho já havia sido disponibilizado online, mas, finalmente, recebeu a validação necessária para sair em um periódico científico.

Tá, mas, afinal, o que diz a pesquisa a que Hawking dedicou seus últimos momentos na Terra?

O estudo Uma Saída Suave para a Inflação Eterna? ("A Smooth Exit from Eternal Inflation?"), feito em parceria com o físico Thomas Hertog, da Universidade de Leuven, parece ficção científica, mas não é. 

Ele é baseado na teoria da inflação eterna. Explicamos: logo após o Big Bang, o Universo começou a inflar, ou seja, de um ponto menor do que a cabeça de uma agulha, o cosmos rapidamente começou a expandir, expandir, expandir até… Colocar o pé no freio e a expandir de forma mais devagar.

Ainda segundo essa teoria, enquanto algumas áreas continuaram em expansão, outras pararam de inflar por completo, formando bolhas de espaço estático. 

Ou seja, o Universo seria então formado por diversas bolhas. Naquelas em que a expansão continuou, a energia do processo foi convertida em matéria e radiação, formando os planetas, as estrelas e as galáxias. Logo, seria possível afirmar que nós mesmos — e tudo o que conhecemos — estaríamos contidos em uma dessas bolhas.

E se essas bolhas realmente existem, sendo cada uma um universo diferente, então o nosso Universo seria apenas um entre incontáveis mundos. Essa é a ideia do multiverso, prevista pela teoria da inflação eterna. 

“É como se você tivesse uma banheira cheia de bolhas de sabão de tamanhos diferentes, e cada uma dessas bolhas fosse um universo diferente”, explica o físico Clifford Johnson, da Universidade do Sul da Califórnia, ao site Astronomy. “O que esse modelo [de Hawking e Hertog] sugere é um mecanismo que pressupõe que, talvez, a variedade de bolhas de sabão disponíveis não seja tão grande quanto se pensava.”

“As leis locais da física e da química podem ser diferentes de um universo de bolso para o outro, que juntos formam um multiverso. Mas eu nunca fui fã do multiverso. Se a escala de universos diferentes no multiverso for grande ou infinita, a teoria não pode ser testada”, escreveu Hawking.

Isso é basicamente um jeito elegante de dizer que a teoria da inflação eterna está errada.

Mas sem ressentimentos, já que até um dos cientistas que formularam a teoria, o físico Paul Steinhardt, da Universidade Princeton, afirmou que o conceito criou mais problemas do que soluções, e seria apenas um novo modelo para acomodar velhas convicções.

Toda essa negação acontece porque a Teoria da Relatividade Geral de Einstein não funciona em escalas quânticas. E o que isso quer dizer? Quer dizer que a teoria formulada por Einstein, que descreve o funcionamento de corpos muito grandes, como estrelas e planetas, não cabe na ideia da mecânica quântica, que descreve corpos muito pequenos, partículas que estão no nível dos átomos. É como tentar colocar um cubo em um furo circular: não entra.

E, para os cientistas, isso é bastante estranho porque supostamente não podemos ter duas físicas diferentes no mesmo universo.

“O problema com a atual questão da eterna inflação é que ela pressupõe um universo de fundo existente que envolve a Teoria da Relatividade de Einstein e trata os efeitos quânticos como pequenas flutuações em torno dele”, explicou Hertog, no artigo.

“Mas a dinâmica da inflação eterna elimina a separação entre a física clássica e a física quântica. E, como conseqüência, a teoria de Einstein se desfaz na inflação eterna.”

Como o conceito de Einstein é muito bem aceito (e cada vez mais reforçado por descobertas recentes como as ondas gravitacionais), Hawking e Hertog preferem acreditar em uma teoria que, em vez de desqualificar o alemão, faça uma ponte entre as duas físicas. A solução foi usar como base a Teoria das Cordas, uma ideia fascinante e polêmica que propõe justamente essa união.

E aí tudo fica mais doido, porque a Teoria das Cordas propõe a ideia do princípio holográfico. Segundo esse conceito, nossa Universo seria como um holograma, a projeção de uma superfície 2D em uma forma 3D, tipo aqueles adesivos de cartão de crédito. 

O que os cientistas fizeram foi desenvolver uma variação desse princípio holográfico, que projeta o tempo (nossa quarta dimensão) na inflação eterna, fazendo com que eles pudessem descrever o conceito sem depender da relatividade geral.

Assim, eles reduziram a inflação eterna a um estado sem tempo em uma superfície espacial do início do Universo, ou seja, fizeram um holograma da inflação eterna. “Quando rastreamos a evolução do nosso Universo até o seu início, em algum ponto chegamos ao limiar da inflação eterna, em que a noção familiar de tempo deixa de ter significado”, disse Hertog.

Última teoria deixada pelo físico britânico fala de múltiplos universos paralelos.

A que pontos chegamos?

Em 1983, Hawking e o físico James Hartle propuseram a teoria do universo sem limites, ou estado de Hartle-Hawking. Segundo essa ideia, antes do Big Bang, existia espaço, mas não existia o tempo. Assim, o Universo teria se expandido sem um limite.

Já, segundo a nova ideia, o Universo teria, sim, um limite. “Nós previmos que nosso Universo, em escalas maiores, é razoavelmente suave e globalmente finito. Não se trata de uma estrutura fractal”, escreveu Hawking, negando a atual teoria da inflação eterna, que pressupõe o Universo como um fractal infinito, ou seja, um mosaico de diversos universos separados por um “oceano inflável”.

Para deixar claro: o último trabalho de Hawking não discorda da ideia de múltiplos universos, só reduz um pouco sua escala. Assim, caso o estudo possa ser testado e replicado por outros cientistas no futuro, vai ser muito mais fácil testar o conceito de multiverso finito.

Uma vez que a inflação gera ondas gravitacionais, Hertog acredita que ao estudá-las poderemos validar o que, por enquanto, ainda é só teoria. Detectores de ondas gravitacionais como o LIGO ainda não estão prontos para detectar ondas desta frequência, mas o LISA, que é um interferômetro estacionado no espaço, e futuros estudos de microondas cósmicas de fundo podem dar as respostas que Stephen Hawking morreu sem conseguir.


Fontes: Galileu e Sputnik

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