HQ "Beasts of Burden: Rituais Animais" consegue fazer terror de qualidade usando animais fofinhos

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

HQ "Beasts of Burden: Rituais Animais" consegue fazer terror de qualidade usando animais fofinhos


De uma história em quadrinhos estrelando cachorros e gatos falantes, pintados em aquarela vivaz, é normal esperar que seja mais um bonito acréscimo às bibliotecas das crianças ou adultos que gostam de histórias fofinhas. Não é bem o caso de "Beasts of Burden Vol. 1: Rituais Animais".

A coleção de contos dos norte-americanos Evan Dorkin (roteiros) e Jill Thompson (pinturas) estrela, sim, bichos de estimação falantes em cores bonitinhas. Mas, se a lua cheia, os esqueletos e as árvores tétricas da capa não deram o alerta, uma folheada vai revelar cãezinhos atropelados, zumbis, fantasmas e muito sangue.

Os protagonistas são os cães Campeão, Rex, Jack, Branquelo e Puguinho, mais o gato Órfão. Eles moram no subúrbio de Burden Hill, assolado por bruxas, rituais satânicos e, às vezes, chuvas de sapos. O clima não é das trapalhadas à la Scooby-Doo. O terror é para valer.

A primeira das oito histórias do volume dá o tom. O beagle Jack não consegue dormir na sua casinha. Reclama de frios repentinos, barulhos, cheiros estranhos. Os amigos de quatro patas da vizinhança resolvem investigar.

À moda "Poltergeist", encontram ossadas embaixo da casinha. São de uma collie, cujo espírito se ergue do chão e conta a história de quando se perdeu dos donos. Ela foi atropelada e enterrada viva.

A collie agradece aos colegas cães. "Agora estou livre para me unir à minha família. Dessa vez não vai será difícil encontra-los", ela diz, sem perceber que é um fantasma. E transforma-se em pontinhos de luz no céu noturno. "Beasts of Burden" - o trocadilho do título perde-se na tradução, infelizmente - surgiu em histórias curtas para antologias de terror. O conceito e as tramas tiveram resultado inesperado com leitores e crítica: a série coleciona sete prêmios Eisner, o auge da indústria de HQ nos EUA, e um da National Cartoonists Society. Direitos para o cinema já foram negociados.

Dorkin, o roteirista, é mais conhecido por HQs de comédia, mas também escreve para desenhos animados de TV. Thompson, que foi uma das artistas de destaque na franquia Sandman, de Neil Gaiman, tem criações próprias que tendem para o "fofo", como "Minha Madrinha Bruxa", também transformada em animação.

A colaboração dos dois foge da expectativa ao não tomar a rota Disney, com todas suas restrições de conteúdo família, e confiar num público que aceita um pouco mais de tensão, terror e morte. Para quem gosta destes elementos nos volumes finais e sombrios de "Harry Potter", "Burden" inclusive desfila um e outro encanto em latim.

Ao final, pode-se dizer que, sim, um dos apelos da HQ é a fofice. Por baixo dela, porém, os personagens -e suas histórias - têm carne, osso e sangue.

Beats of Burden já ganhou oito Prêmios Eisner, o principal troféu do mundo dos quadrinhos.

Jill Thompson é conhecida por seu trabalho em Sandman, Monstro do Pântano e Mulher-Maravilha.


Beasts of Burden – Rituais Animais


Autores: Evan Dorkin e Jill Thompson
Editora: Pipoca & Nanquim
Páginas: 188 (coloridas)
Especificações: formato 19,5 x 28,0 cm, capa dura com miolo em papel couché fosco 115g/m2, acabamento especial com meia-casaca de percalux imitando couro.
Tradução do inglês por Marília Toledo, 
Preço sugerido: R$ 69,90



Confira algumas ilustrações da história em quadrinhos:








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