Com show de ilusionismo as lendas amazônicas ganharam vida no Festival Folclórico de Parintins

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Com show de ilusionismo as lendas amazônicas ganharam vida no Festival Folclórico de Parintins

Caprichoso, o boi azul, venceu o festival com enredo que usou efeitos de ilusionismo para dar vida as lendas amazônicas.


Com o tema “A Poética do Imaginário Caboclo”, o Caprichoso venceu o Festival Folclórico de Parintins retratando histórias e lendas do povo amazônico. Não por acaso, a imaginação, a ilusão e as surpresas preparadas pelo Touro Negro foram acrescidas de um elemento que deixou todos boquiabertos: Issao Imamura, um dos maiores nomes do Brasil quando o assunto é ilusionismo.

“A gente pensou muito em trazer um espetáculo jamais visto, inovador. Trazendo uma estrutura nova, apresentada nas olimpíadas, com ilusionistas, iluminação de ponta, com guindaste e com uma equipe que trabalha o ano todo pra mostrar um espetáculo a nível nacional”, ressaltou Ronaldo Barbosa, membro do Conselho de Arte do boi azul.

A história da origem do Caprichoso foi o destaque da segunda noite de apresentações do boi bumbá azul na 52ª edição do Festival Folclórico de Parintins. A primeira alegoria, confeccionada pelo artista Jucelino Ribeiro, retratou a lenda de Dom Sebastião, rei de Portugal, que, aos 24 anos de idade resolveu ir para o Marrocos converter os mouros ao cristianismo. O monarca desapareceu misteriosamente, e reza a lenda que ele costuma surgir em noites de lua cheia, como um boi com uma estrela brilhante na testa, na praia dos Lençóis, na parte amazônica do Maranhão. Durante todo o espetáculo, o Caprichoso mostrou que investiu em tecnologia e inovação.

Na Lenda Amazônica, o “Curupira” ressurge na alegoria do artista Algles Ferreira e equipe destacando o ser da mitologia amazônica, o senhor dos animais e protetor da floresta que judia de caçadores, madeireiros e exploradores fazendo com que se percam na selva.

A Figura Típica Amazônica reproduz o “Vaqueiro da Amazônia”, alegoria do artista Francinaldo Guerreiro e equipe aborda a saga do cavaleiro que enfrenta os fenômenos da enchente e vazante com o passar do gado da terra firme para a várzea e vice-versa enfrentando desafios e perigos, entre estes, ataques de animais silvestres, aquático e répteis.

O ritual indígena “Kupe-Dyep” do artista Kennedy Prata e equipe fecha a segunda noite do boi azul reproduzindo a mitologia dos índios Apinajé, habitados na Serra do Roncador no Estado do Mato Grosso.

A lenda foca num mundo subterrâneo habitado por homens-morcego, os Kupe-Dyep. Segundo os indígenas, intrusos que rodeiam o local ainda tem que enfrentar alcateia de lobos-guará, como ocorreu com alguns caçadores que descobriram o segredo dos homens-morcego, foram aprisionados e passaram pelo ritual transformação deixando de ser humanos para ser iguais ao Kupe-Dyep, desenvolvendo olfato aguçadíssimo e aprenderam a voar, passando ser os guardiões do mundo dos homens-morcego.

Um dos fundadores no Brasil, Imamura realizou a primeira demonstração há mais de 20 anos quando fez desaparecer um caminhão de sete toneladas. E pela primeira vez na história, o Festival Folclórico de Parintins teve uma parcela do talento dele mostrado do Bumbódromo para o mundo. “Foi uma grande honra receber esse convite do Caprichoso”, disse ele.

Tradição do Boi Bumbá existe desde 1913 e faz parte da cultura amazônica.

A galera do Caprichoso estava muito animada e interagindo com o espetáculo. A manauara Mariana Benevides, de 21 anos, de Manaus, participa de todos os festivais desde 2010, e já está rouca de tanta empolgação com a festa. “Todas as vezes eu fico assim sem voz. Terceiro dia ninguém nem conversa mais comigo porque não tem voz. Sempre que o Caprichoso entra eu começo a chorar, fico arrepiada. É um amor inexplicável”, contou a torcedora.

O Garantido trouxe o tema "Magia e Fascínio do Coração da Amazônia". O boi vermelho abordou o folclore e a resistência cultural, como um clamor pela cultura do boi bumbá amazônico, suas origens e tradições. A degradação da floresta amazônica também foi lembrada em uma toada clássica “Lamento de Raça” que emocionou a galera encarnada na voz do levantador de toadas Sebastião Júnior. O auto do boi, que é a lenda que deu origem ao festival, ganhou destaque com uma gigantesca alegoria do boi vermelho. A manauara Selma Dadi, fã do Garantido, está confiante na vitória do seu boi.

Há 30 anos a técnica de enfermagem Ana Paula Oliveira Fernandes é integrante da Batucada, a bateria do boi vermelho. Ela que é de uma família apaixonada pelo Garantido conta que, a cada ano, é sempre uma emoção participar do festival. “A minha família é praticamente toda da Batucada. Meu irmã toca surdo, minha irmã toca palminha. A cada ano é uma emoção diferente. Cada noite dá um frio na barriga”, disse Ana Paula.



Sucesso de público


Uma das maiores manifestações culturais do país, o Festival Folclórico de Parintins atraiu, segundo a Secretaria estadual de Turismo, cerca de 70 mil pessoas à pequena cidade de pouco mais de cem mil habitantes.

— Passamos por um período difícil financeiramente nos últimos anos, mas a festa voltou ao que era esta ano. Afinal, é onde desfilam figuras, como rainhas, princesas, animais estilizados e personagens do folclore brasileiro como o Curupira, a Iara, o Boto Tucuxi e muitos outros seres que representam a nossa cultura popular - destaca a presidente da AmazonasTur, Oreni Braga.

A origem dessa celebração tem origem em uma antiga lenda, que contra a história de um rico fazendeiro que teria presenteado sua filha (sinhazinha), com um boi adorado por todos. Pai Francisco é o peão da fazenda e Mãe Catirina, sua mulher, está grávida e manifesta ao marido um desejo muito forte: comer a língua do boi. Francisco atende o pedido da mulher e mata o boi preferido do fazendeiro e da sinhazinha. Na tentativa de ressuscitar o animal, o pajé da tribo é chamado.

Lendas como a da "Cobra grande" ganham vida na mão dos artistas do festival e enriquecem as apresentações dos Bumbás. O ponto alto, como aponta o guia Inaldo Albuquerque, é a encenação da "morte do boi".
— Com o boi vivo novamente, a festa se reinicia num ritmo mais frenético que não deixa ninguém parado. Mas só na hora do Garantido (risos) - avisa.

Nas arquibancadas, o espetáculo não é menor. As "galeras", como são conhecidas as torcidas organizadas dos dois bois, se manifestam com bandeirinhas, balões, fitas e painéis luminosos. Mas só durante a apresentação do seu boi, pois se o bumbá na arena é seu "contrário", o silêncio é total. 

Inaugurada em 1988, a Arena Bumbódromo é o palco do Festival Folclórico de Parintins, uma espécie de anfiteatro no formato de uma cabeça de boi cujo nome oficial é Centro Cultural e Esportivo Amazonino Mendes, em homenagem ao então governador do estado.

Porém, a festa não está apenas lá. A paixão pelos bois está espalhada por todos os cantos da cidade. Residências, telefones públicos e ruas ostentam as cores dos bumbás. Até a gigante Coca-Cola teve que se curvar ao fanatismo parintinense e comercializa um rótulo azul, assim como recentemente a cerveja Brahma, no lado do Caprichoso.

A uma hora de voo de Manaus, Parintins está na margem direita do rio Amazonas, conhecida como a Ilha Tupinambarana que, nesta época do ano, se transforma na ilha da magia, onde as lendas indígenas e o folclore amazônico emprestam suas cores ao duelo acirrado entre os bois.

Independente da rivalidade, quando chega a última semana de junho os amazonenses já sabem: vai ter festa na floresta!

Garantido, o boi vermelho, apresentou alegoria que retrata lenda das sereias.

Ouça abaixo o enredo dos dois grupos:

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