A lenda da Rainha do Maranhão

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A lenda da Rainha do Maranhão


Descendente da nobreza européia, Ana Joaquina Jansen Pereira – a “Rainha do Maranhão” – desafiou os costumes, a moral e o domínio masculino nos negócios.

A família Jansen instalou-se no Maranhão em 1740, com a vinda de Cornélio, avô de Ana. A serraria fundada por ele e um sócio – a Jansen e Manon – mantinha negócios com a metrópole. O pagamento das encomendas com Letras de Câmbio que se desvalorizavam devido ao tempo de ida e volta, levaram o negócio à falência e Cornélio à morte. Ana e sua mãe, já viúva, amargaram a miséria. Solteira e com 15 anos, Ana deu à luz Manuel – filho de pai não revelado.

Em São Luís, as senhoras de boas famílias lutavam para evitar os bastardos, o que não ocorria com os maridos. Os domicílios duplos eram moda e, com eles, as famílias “postiças”. Em pouco tempo, Donana tornou-se amante do coronel Isidoro Rodrigues Pereira, representante da mais rica família do Maranhão. Casado e sem filhos, teve de Ana o primeiro, reconhecido e batizado.

A viuvez de Isidoro trouxe as bodas para Nhá Jansen. Anos depois, com a morte do marido em 1825, assumiu o controle do império herdado, transformando-se na maior produtora da Província e uma das maiores de todo o Norte do Brasil Império. Seu tino comercial era inigualável. Fornecia carne e leite para o Maranhão e vendia algodão e cana-de-açúcar para o Sul e para a Europa. Adquiriu diversos imóveis na cidade e tornou-se a maior proprietária de escravos, triplicando sua herança.

Ana foi também amante do desembargador Francisco Vieira de Merlo. Aos 60 anos, se casou novamente com um rico comerciante.

Diz a lenda que a carruagem fantasma aparece nas noites de quinta ou sexta-feira, partindo do cemitério do Gavião e toca o terror pelas ruas da capital do Maranhão: São Luis.



Métodos

Além dos diversos negócios, Nhá Jansen deteve o monopólio de distribuição de água potável, feita em carroças puxadas por muares. Em 1850, foi autorizada pelo governo provincial a criação da Companhia de Águas do Rio Anil para abastecer a cidade.

A companhia encerrou seus serviços em 1867, após os prejuízos provocados por atentados que impediam o fornecimento de água. As tentativas criminosas foram atribuídas a pessoas que lucravam com os aguadeiros, em especial a Ana Joaquina Jansen Pereira, que, segundo consta, mandava colocar gatos putrefatos nos chafarizes. Enquanto ela viveu, a Província do Maranhão não teve água encanada.


Política

A Balaiada, revolta popular maranhense chefiada pelos irmãos Beckman em 1838, levou o imperador Pedro II a enviar Luis Alves de Lima e Silva – o futuro Duque de Caxias – para sufocar o movimento.

Deficitário em homens e arsenal, Luis Alves recorreu a Ana Jansen. Em troca da ajuda, Donana obteve a aceitação de seu primogênito, Manuel, como coronel e comandante do Batalhão da Guarda Nacional. A partir daí, o domínio político da família se consolidou. A presidência da Província e a Assembléia Provincial passaram alguns anos sob o controle dos Jansen.

Nhá Jansen faleceu em São Luís, em 1889, aos 82 anos e ainda hoje há descendentes de sua família no Maranhão.



A Carruagem de Ana Jansen

Era voz corrente na época, que Donana Jansen cometia atrocidades contra seus escravos. De suas maldades conta-se que certa vez, mandou arrancar todos os dentes de uma escrava que ousou sorrir para ela. A hemorragia levou-a à morte e seu corpo foi jogado num poço. É fato que numa de suas propriedades foram encontradas centenas de ossadas dentro de um poço. A fama de mulher sem escrúpulos – semeada por seus opositores e desafetos – transformou-se numa das lendas mais contadas nas noites maranhenses: a carruagem de Ana Jansen.

Sua carruagem deixa o cemitério nas noites escuras de quinta ou de sexta-feira para vagar pelas ruas de São Luís. Em grande velocidade, o veículo puxado por parelhas de cavalos brancos sem cabeças, é guiado por uma caveira de escravo, também decapitada, conduzindo o fantasma de Donana que pena pelos pecados cometidos.

Quem tiver a macabra infelicidade de encontrar a carruagem e deixar de fazer uma oração pela salvação de sua alma, ao deitar-se para dormir receberá das mãos de seu fantasma uma vela de cera. Quando o dia amanhecer a vela estará transformada num descarnado osso humano.


A lenda já virou até reportagem no programa Fantástico, confira:

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